terça-feira, 17 de novembro de 2015

de quando deixei de ser mero espectador e me tornei também um formador


fui criança numa década de cores e imagens.
e muita música.
música de criança tinha cor.
música de adulto tinha cor.
música de criança tinha muita imagem.
música de adulto tinha muita imagem.
fossem cabelos, acessórios, maquiagem.
planos econômicos mais frente também seriam bem coloridos.
ou já eram antes.
já eram.



mas quem se importava?
éramos todos crianças.
fossem os adultos que fossem.
pelo menos 'comparados as crianças de hoje em dia.'
essa frase aí de cima eu ouvi de algum velho.
ele esqueceu que já foi jovem e sempre diz: 
"os jovens estão avançadinhos demais!"

se eu cresci ouvindo que na modernidade uma criança tinha mais informação que um rei medieval, hoje crianças são reis.
adolescentes muitas vezes são deuses.
os adultos então são anjos caídos.
é muita informação.
é pouca formação.
é crescer ouvindo alguém dizer que você é especial.
é estar crescido vendo que todos ouviram a mesma coisa.
de repente todos são especiais.
meu reino era meu quintal. 
um lugar comum.



nem tudo é terror, pessimista.
a não ser que você ainda assista televisão.
mas aí é você tendo nostalgia de comportamento.
tem mais de uma década que tudo ao mesmo tempo agora deixou de ser pastiche grunge.
é um zilhão de cores.
claro, se você continua visitando sites com a mesma visão, pouca coisa muda.
é como ingressar na faculdade pra ser alguém que você não gosta. 
você vai ser exatamente o que planejou.

eu quis quebrar essa "quarta parede".
(a quarta parede é uma parede imaginária situada na frente do palco do teatro, show, cinema, através da qual a plateia assiste passiva à ação do mundo encenado.*) 
de repente eu continuei sentado.
mas agora eu formava também.
eu era cliente, mas era servidor também, numa linguagem cibernética.



e assim propus o projeto "NO ARTIST NAME".
aproveitando de uma falha do aparelho de som do carro, que não conseguia a leitura de alguns arquivos mp3 e estampava na tela esse nome, gerei um conceito.
claro, este aproveitado de informações contemporâneas ao meu redor.
kraftwerk, synthpop, funkadelic, etc.
originalidade está na leitura pessoal dos fatos.
não é "fiz um ovo triangular, me admirem" - pra que serve essa merda? como você botou isso? 
pobre galinha.

quantas músicas você reconhece o autor só de ouvir no rádio?
você se importa?
quantas vezes você pensa "já ouvi isso antes" quando toca uma música 'nova'?
você escuta rádio ainda?
você escuta tudo que você baixa no computador?
você ainda baixa músicas?
você acha que aquela moça tem aquela voz mesmo?
você acha que eles realmente são autênticos?

munido dessas e outras perguntas, criei um projeto musical onde eu tocaria tudo.
guitarra. baixo. teclados.
apanhei pra tocar bateria. (onde está meu ritmo? que brasileiro fajuto!)
até que chegou a voz.
não queria que fosse a minha voz. 
não queria que fosse a voz de ninguém.
mas não queria uma voz robótica.
simples. 
escrevi as letras e entreguei para o google voice e o reprodutor de voz do mac.
alterando-as digitalmente cantavam até em coro.
sampleei mais alguma coisa aqui e ali.
presto!



as letras? 
paranóia digital.
neurose de rede social.
dá até refrão.
o texto ficou grande.
todos tem pressa nesse mundo.

ontem foi bom. mas foi ontem.

*wikipedia

segunda-feira, 13 de julho de 2015

de quando o regime fascista fez de mim um imbecil


quando era criança, sentia vergonha alheia por uns adolescentes que moravam na minha rua.
eles usavam tachinhas, cabelão e soltavam urros guturais como se estivessem indo lutar por um lorde medieval.
não, não era um concurso de cosplay o destino deles. isso nem existia (não no meu mundo). eles estavam indo a um show de rock.



sempre vi o gênero rock como o maior ajuntamento de manés que algo relacionado a cultura (seja alta ou baixa, gorda ou magra) pôde agrupar na história.
mas por mais que eu zoasse os fãs de kiss quando moleque ( precisei de ficar velho pra entender a piada deles, putz!), desde criança o roque me pegou e nunca mais largou. mas eu não queria ser igual aqueles caras, nunca entendi o sujeito ter de se maquiar ou "armar" pra ser ele mesmo.

quando perguntam qual o estilo da minha banda, olho pro chão, faço aquela cara de quem mora em condomínio e logo de manhã cumprimenta por educação o vizinho de porta, respiro e balbucio "é de roque...".
algumas vezes, em momentos de descontração, minha resposta poderia ser "é salsa e merengue", mas certa vez soltei essa e para minha surpresa quem ouviu recebeu a resposta com tanto entusiasmo e a sério que me desconcertei todo para dizer que era piada.
explicar piada é sentença de morte para qualquer bobo. tenha corte ou não.



mas veja só como é um estilo de música (ou vida, para muitos) imbecil. comemora-se o dia do roque. não se comemora o dia da polca. ou do tango. pelo menos não até onde sei, ou com tanta firula em cima do tema. e o pior, o dia foi escolhido numa típica jogada publicitária com boas intenções. o que mina qualquer possibilidade de se levar a sério, ou principalmente, como piada isso. o roque, até onde entendo, é o escape das obrigações, do bom mocismo, do bem social.

e mais. o roque foi o primeiro gênero que tenho notícia que fingiu escapar de si mesmo aderindo o rótulo "universitário". universitários devem ser geniais mesmo... justificando seu (mau) gosto colocando selo de qualidade para ser aprovado pela sociedade.
é quase pedir permissão aos pais para ser radical.



mas assumo meus pecados. o dito está entre os meus favoritos. o "college rock" descartava os penduricalhos, a maquiagem e a porcaria do couro apertando as ventas. me seduziu na hora quando eu completei meus 15 anos.

música popular a partir do pós-guerra é para jovenzinhos. mas nos dias de hoje, e digo atual diante de uma evolução desde a queda nazista, é que os velhos estão cada vez mais jovens. escolha o sentido que quiser para esta frase.

não estamos crescendo?
estamos tendo mais tempo?
quem tem tempo hoje em dia?

não sei. sei que hoje, em vez de comemorar o dia do roque, vou comemorar o dia do engenheiro sanitário. graças a ele não precisamos encarar toda a merda que fazemos.






quinta-feira, 18 de junho de 2015

de quando deixei de ser carbono e o finalzinho romântico me fez bocejar


Ficção científica. 
Estilo literário/cinematográfico.
Eles sempre (ou quase) emulam alguma corrente filosófica para se justificar.
A maioria, senão quase todos, entopem as lacunas ( ou seriam pontos de reflexão?)  com tiros, explosões e uma historinha romântica.




O que vende sempre foi e sempre será a historinha romântica. 
E quem sabe uns tiros. 
Matrix tem. Blade Runner tem. Star Wars tem. Avatar tem. Inception tem. Planeta dos Macacos, tem. Lucy tem. 

2001 não.
É a exceção. 
Mas péra!
E aí vem a corrente "intelecto-universitária-hay govierno soy contra" que tenta desmoralizá-lo como espetáculo.
Sim, desmoralizá-lo. 
Porque 2001 também é espetáculo. 
Foi feito pensando nisso. Foi vendido pensando nisso.
E vendeu pensando nisso. 
Vendeu bem.

Vejo caretas no circuito alternativo. 
Os altos representantes da escola de sofredores Frida Kahlo – Van Gogh
Esses detestam o sucesso. O sorriso. 
Para figuras que nunca se deram bem no convívio social a ideia de sucesso é aterradora.  
Mas...
Eles precisam da historinha romântica deles também.




E aliens? 
Já reparou que (quase, 2001 de novo!) todos os contos, filmados ou não, baseiam vidas inteligentes evoluindo como seres humanos? Sim.
Eles tem braços, pernas, bocas, necessidades.

Podem ser verdes, de saliva ácida, mas igualzinhos a nós, porém mais fortes. 
Milhões, bilhões de anos luz de distancia. 
Falam inglês e se vestem quase igual quem vai na padaria.
Evoluíram do carbono.
Como todo ser vivo.
Que nós conhecemos.
E até onde as possibilidades da ciência nos leva.

eu aprendi a desenhar copiando em carbono.
copiava mapas e mundos.
nem todo grafite é diamante.
e os diamantes são eternos, bond.




Mas pare. 
Um minuto.
E, se, de repente, nem todos, em algum lugar, evoluíram da mesma forma?

E se nunca precisaram desse tipo de formação?
E se estiveram por aí esse tempo todo?
E nunca percebemos?

Chame de deus. 
Chame de vento. 
Chame de espírito. 
Chame de relapso. 
Chame de fantasma. 
Chame de reflexo.

Era só um vulto? 
Ou esse texto me influenciou?
Alem da imaginação. 
Não é mesmo?



sempre fui ruim de ciências.

Deixa eu ir ali pagar a porra do aluguel.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

de como me atrasei e perdi meus 15 minutos de fama


"um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama"
fazem uns 50 anos que a maioria das pessoas corre por essa de Andy Warhol.
Um dia todos terão seu quinhão, mas ele não será eterno.
Todos olharão para você, até descobrir que os cadarços brilhantes estão em outros pés. E esses pés serão algo realmente admirável até o próximo click do relógio.



A luta por atenção só encontra  paralelo com os limites da “zueira”.
Talvez uma viva pela outra. No ímpeto pouco racional de se conseguir seus 15 minutinhos (Andy, 15 minutos é tanto tempo…tem certeza?) de fama e fortuna, a quantidade de pessoas que se tornam célebres mais pela zueira que envolve seus atos do que o ato em si para elevá-las torna a balança angular a ponto de quase um raio. Que não cai duas vezes no mesmo lugar.
E nem todo mundo nasceu Capitão Marvel pra gritar 'Shazam!' e o raio lhe deixar mais forte.



No reality show chamado vida, a atenção dos espectadores é consideravelmente menor.
Para simplificar, estão todos gritando e brilhando ao mesmo tempo.
15 minutos depois, todos estão murmurando e vestidos de cinza.

“se eles querem soar diferentes, porque não usam plumas em vez de se vestirem todos iguais?” disse certa vez Kevin Howland, da gloriosa banda Dexys Midnight Runners, sobre a ascensão dos punques. Ou da moda punque, caso prefira.
Na internet tudo dura pra sempre, Andy.
Seja diamante ou carvão.



Estamos nos repetindo o tempo todo.
E certo dia já acordamos falhando.
E já deve ser a quinta vez nesse ano que acordei com uma ideia supostamente genial, comecei a trabalhá-la e inicio uma pesquisa no google para perceber que a dita, praticamente idêntica, em alguma outra parte do mundo que não se chega a pé em uma caminhada de alguns dias, foi trabalhada, divulgada e vendida com grande sucesso.
Meu relógio estava atrasado 15 minutos, Andy.
E ninguém me avisou.



Por isso, estou aqui, procurando em sites de vendas um belo despertador.
Quem sabe um dia eu acorde mais cedo.
E que mitra me ajude.


quarta-feira, 3 de junho de 2015

de quando o aparelho de som foi expulso da sala por não combinar com o sofá


Marinete está de casa nova.

Como era querida na família, foi presenteada com praticamente todos os móveis da casa, numa lista em que ela mesma sugeria como queria montar sua nova residência. Nada voluptuoso, mas tudo muito bacaninha e arranjado.

Mesmo sua família não entender muito bem a ideia dela sair do conforto da casa dos pais para morar sozinha, pois já é uma quase tradição contemporânea (eita!) os filhos morarem com os pais até…
…bem, no momento não posso expressar dados a respeito de qual é a data limite para sair pois essa “tradição” é muito recente e esses filhos ainda estão morando com os pais.

Mas ok. Marinete é perseverante, corajosa e considerada louca para os dias atuais.
A ideia de loucura hoje em dia é bastante variável. A garota ficou com 2 caras na mesma festa é louca. ou cismou com uma pessoa só tem 10 anos é mais louca ainda.
Se bem que nos dias atuais é meio louco mesmo  a ideia de pensar em tempos/prazos de 10 anos. Ou 5 anos. Ou 1 ano. Seis meses é a coisa mais eterna da última encarnação. Do primeiro mês até o sexto deu pra mudar a foto de perfil umas 20 vezes, o status de relacionamento umas 15 e “meu pé está doendo” umas 8. Se o pé dói está na hora de trocar os sapatos, dizem.



Mas Marinete. Marinete está apaixonada somente por sua casa nova.  E por seus móveis novos. Não que ela seja materialista. Apenas gosta da ideia de que seu começo tenha um meio legal. Não quer provar que no fim estava certa. Essa coisa de provar algo era de seus antepassados.

E se tem algo que seus antepassados faziam era colocar na lista (pois Marinete, apesar de decidida e contemporânea também respeita algumas tradições e a ideia de lista não é nada moderninha)  um belo aparelho de som.
Aquele trambolhão que o papai passava horas planejando onde deveria ficar cada caixa acústica, onde o sofá ficaria melhor posicionado para receber de forma mais eficiente a emissão Sonora, etc.



Quando o aparelho de som foi expulso dos planos da sala, pouca gente foi no quarto ver como ele estava se sentindo. Na verdade, ele virou um aplicativo no celular, e anda por qualquer lugar.
Liberdade para o aparelho de som! Você pode considerar assim. Seja otimista.
O pessimista vai dizer que a música não tem mais a mesma importância na vida das pessoas que tinha antes.

E não tem mesmo!
A televisão já treme, pois é a próxima vítima.
Não existirão ícones gigantescos como antes. Um disco do Led Zeppelin, Smiths ou Martinho da Vila demorava ao menos um ano pra sair outro.  Quem tem tempo pra isso?

O tempo realmente não pára Marinete. E não é de ninguém. Levantar, tirar o disco da capa, trocar de lado! Respirar já não é mais possível.


















“Gente ultrapassada na pista não estoura champagne”, diz Marinete.

E ela sorri quando descobre uma caixa cheia de cd’s e dvd’s com tudo que ela pôde baixar 10 anos atrás jurando que um dia iria ouvir/assistir. Vai tudo para a reciclagem.
Alguém ainda usa relógio de pulso?  Marinete usa. Mas como acessório. Música é mais um acessório também. E vai durar 3 semanas no aplicativo.

Corra Marinete.
Mais que Forrest.
Mais que Lola.
Você está correndo pra onde mesmo?