segunda-feira, 13 de julho de 2015

de quando o regime fascista fez de mim um imbecil


quando era criança, sentia vergonha alheia por uns adolescentes que moravam na minha rua.
eles usavam tachinhas, cabelão e soltavam urros guturais como se estivessem indo lutar por um lorde medieval.
não, não era um concurso de cosplay o destino deles. isso nem existia (não no meu mundo). eles estavam indo a um show de rock.



sempre vi o gênero rock como o maior ajuntamento de manés que algo relacionado a cultura (seja alta ou baixa, gorda ou magra) pôde agrupar na história.
mas por mais que eu zoasse os fãs de kiss quando moleque ( precisei de ficar velho pra entender a piada deles, putz!), desde criança o roque me pegou e nunca mais largou. mas eu não queria ser igual aqueles caras, nunca entendi o sujeito ter de se maquiar ou "armar" pra ser ele mesmo.

quando perguntam qual o estilo da minha banda, olho pro chão, faço aquela cara de quem mora em condomínio e logo de manhã cumprimenta por educação o vizinho de porta, respiro e balbucio "é de roque...".
algumas vezes, em momentos de descontração, minha resposta poderia ser "é salsa e merengue", mas certa vez soltei essa e para minha surpresa quem ouviu recebeu a resposta com tanto entusiasmo e a sério que me desconcertei todo para dizer que era piada.
explicar piada é sentença de morte para qualquer bobo. tenha corte ou não.



mas veja só como é um estilo de música (ou vida, para muitos) imbecil. comemora-se o dia do roque. não se comemora o dia da polca. ou do tango. pelo menos não até onde sei, ou com tanta firula em cima do tema. e o pior, o dia foi escolhido numa típica jogada publicitária com boas intenções. o que mina qualquer possibilidade de se levar a sério, ou principalmente, como piada isso. o roque, até onde entendo, é o escape das obrigações, do bom mocismo, do bem social.

e mais. o roque foi o primeiro gênero que tenho notícia que fingiu escapar de si mesmo aderindo o rótulo "universitário". universitários devem ser geniais mesmo... justificando seu (mau) gosto colocando selo de qualidade para ser aprovado pela sociedade.
é quase pedir permissão aos pais para ser radical.



mas assumo meus pecados. o dito está entre os meus favoritos. o "college rock" descartava os penduricalhos, a maquiagem e a porcaria do couro apertando as ventas. me seduziu na hora quando eu completei meus 15 anos.

música popular a partir do pós-guerra é para jovenzinhos. mas nos dias de hoje, e digo atual diante de uma evolução desde a queda nazista, é que os velhos estão cada vez mais jovens. escolha o sentido que quiser para esta frase.

não estamos crescendo?
estamos tendo mais tempo?
quem tem tempo hoje em dia?

não sei. sei que hoje, em vez de comemorar o dia do roque, vou comemorar o dia do engenheiro sanitário. graças a ele não precisamos encarar toda a merda que fazemos.