Marinete
está de casa nova.
Como era
querida na família, foi presenteada com praticamente todos os móveis da casa,
numa lista em que ela mesma sugeria como queria montar sua nova residência.
Nada voluptuoso, mas tudo muito bacaninha e arranjado.
Mesmo sua
família não entender muito bem a ideia dela sair do conforto da casa dos pais
para morar sozinha, pois já é uma quase tradição contemporânea (eita!) os filhos morarem com os pais até…
…bem, no
momento não posso expressar dados a respeito de qual é a data limite para sair pois
essa “tradição” é muito recente e esses filhos ainda estão morando com os pais.
Mas ok.
Marinete é perseverante, corajosa e considerada louca para os dias atuais.
A ideia de
loucura hoje em dia é bastante variável. A garota ficou com 2 caras na mesma
festa é louca. ou cismou com uma pessoa só tem 10 anos é mais louca ainda.
Se bem que
nos dias atuais é meio louco mesmo
a ideia de pensar em tempos/prazos de 10 anos. Ou 5 anos. Ou 1 ano. Seis
meses é a coisa mais eterna da última encarnação. Do primeiro mês até o sexto
deu pra mudar a foto de perfil umas 20 vezes, o status de relacionamento umas
15 e “meu pé está doendo” umas 8. Se o pé dói está na hora de trocar os sapatos,
dizem.
Mas Marinete.
Marinete está apaixonada somente por sua casa nova. E por seus móveis novos. Não que ela seja materialista.
Apenas gosta da ideia de que seu começo tenha um meio legal. Não quer provar
que no fim estava certa. Essa coisa de provar algo era de seus antepassados.
E se tem
algo que seus antepassados faziam era colocar na lista (pois Marinete, apesar
de decidida e contemporânea também respeita algumas tradições e a ideia de
lista não é nada moderninha) um
belo aparelho de som.
Aquele trambolhão
que o papai passava horas planejando onde deveria ficar cada caixa acústica,
onde o sofá ficaria melhor posicionado para receber de forma mais eficiente a
emissão Sonora, etc.
Quando o
aparelho de som foi expulso dos planos da sala, pouca gente foi no quarto ver
como ele estava se sentindo. Na verdade, ele virou um aplicativo no celular, e
anda por qualquer lugar.
Liberdade
para o aparelho de som! Você pode considerar assim. Seja otimista.
O
pessimista vai dizer que a música não tem mais a mesma importância na vida das
pessoas que tinha antes.
E não tem
mesmo!
A televisão
já treme, pois é a próxima vítima.
Não existirão
ícones gigantescos como antes. Um disco do Led Zeppelin, Smiths ou Martinho da
Vila demorava ao menos um ano pra sair outro. Quem tem tempo pra isso?
O tempo
realmente não pára Marinete. E não é de ninguém. Levantar, tirar o disco da
capa, trocar de lado! Respirar já não é mais possível.
“Gente ultrapassada na pista não estoura
champagne”, diz Marinete.
E ela sorri
quando descobre uma caixa cheia de cd’s e dvd’s com tudo que ela pôde baixar 10
anos atrás jurando que um dia iria ouvir/assistir. Vai tudo para a reciclagem.
Alguém ainda
usa relógio de pulso? Marinete
usa. Mas como acessório. Música é mais um acessório também. E vai durar 3 semanas
no aplicativo.
Corra
Marinete.
Mais que
Forrest.
Mais que
Lola.
Você está
correndo pra onde mesmo?
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